Sunday, October 29, 2023

Politicas Menos Poluentes para o Sector da Habitação

tayandmckay / Instagram
A imprensa inunda-nos com indicadores que demonstram a necessidade de mais planetas para manter o estilo de vida europeu e a população, diria que legitimamente, pretende incrementar a sua qualidade de vida.

Não pretendo responder totalmente ao desafio deste artigo, mas apenas acompanhar o leitor na reflexão.

Quais os factores que importam para a nossa qualidade de vida? Alimentação saudável? Companhia dos entes queridos? Conforto térmico? Reconhecimento profissional? Velocidade e ou Aventura?

Todos estes factores permitem ser satisfeitos com frações das atuais emissões carbónicas.
Podemos ter uma alimentação saudável sem os atuais niveis de consumo de carne animal, podemos visitar e ser visitados por aqueles que amamos sem a recurso a uma mobilidade a combustão, aquecer e arrefecer as nossas casas alimentadas a energia solar, desempenhar remotamente as nossas funções profissionais em contexto social e ambiental, que permitem melhores niveis de concentração e concretização que os colegas in office.
E claro, pedalar ou parapentear até que a garganta nos doa!

Acredito que não existe uma relação de proporcionalidade entre qualidade de vida e o nível de emissões de gases para a atmosfera.
Mas para conseguirmos atingir esses objectivos, precisamos de analisar aquilo que nos realiza e confrontar com as emissões que promove.
E chegaremos à conclusão que uma parte muito significativa das nossas emissões não impacta na qualidade de vida.

Esta reflexão leva-nos a outra, identificada através da análise do INE à dimensão das habitações em Portugal, que revela que mais de metade tem uma área superior 100 m2.
Ora, somos um dos países onde as habitações são mal construídas e termicamente ineficientes, e isso implica elevados niveis de energia para as manter confortáveis.

Se a população adulta portuguesa já se conformou com esta realidade, os jovens e os estrangeiros ainda não.
E por isso, encontramos nestes dois segmentos os clientes das Micro-Casas em Portugal: encontram o seu conforto em habitações móveis com ± 30m2 de área, instaladas em terrenos com alguns hectares de floresta ou pomares.

E se identifica neste texto uma linha condutora, o mesmo não acontece nas politicas públicas: proclama-se o combate às alterações climáticas mas mantém-se a legislação que promoveu uma tipologia de habitação que nos trouxe à insustentabilidade.
Não é um problema exclusivamente português nem sequer europeu: em todo o mundo atira-se para a ilegalidade quem procura um estilo de vida que terá de ser maioritário no mundo nas próximas décadas.

Friday, May 26, 2023

Estou farto e cansado

Eduardo Marçal Grilo

25 de maio de 2023

In Jornal Público

Estou cansado e triste quando vejo os militantes dos partidos abdicarem de dizer o que pensam.

Sim, estou farto de quase tudo o que ouço e vejo à minha volta.

Mas também estou cansado de ouvir e ler sempre os mesmos a dizerem as mesmas coisas, como se conhecessem as soluções para todos os problemas, mas que nunca nos apresentaram uma única ideia ou proposta para a solução dos problemas com que o país se confronta.

Sim, estou farto de ver os políticos a criar conflitos inúteis, como estou farto de ver as televisões a massacrar os telespectadores com programas de futebol intermináveis e em que para entreter se criam conflitos sobre penalties , expulsões e foras-de-jogo.

Estou cansado de ler as notícias da corrupção que corrói a democracia e alimenta os populismos.

Estou cansado de ver os moderados sem voz e sem presença nos media .

Estou cansado e triste por ver pessoas “queimadas” na praça pública com notícias falsas ou com acusações infundadas.

Estou farto de ver títulos de jornais que não correspondem à notícia a que se referem.

Estou farto de conferências, colóquios e seminários em que os que falam e os que ouvem são sempre os mesmos.

Estou farto dos debates em que nós todos já sabemos o que cada um vai dizer.

Estou cansado e triste quando vejo os militantes dos partidos abdicarem de dizer o que pensam.

Estou farto de ver gente em lugares de responsabilidade comportarem-se como membros de uma associação de estudantes do ensino secundário.

Estou cansado e triste por ver deitados para o lixo trabalhos que foram feitos por organizações credíveis que só querem contribuir para melhores soluções para os problemas do país.

Estou farto da arrogância de alguns que nos querem impor as agendas das minorias.

Como também estou cansado dos excessos em torno da cultura de género.

Estou cansado das notícias que justificam que os processos judiciais se tornem intermináveis.

Estou farto dos que lucram com todo este emaranhado jurídico dos processos lançados pelo Ministério Público.

Estou também indignado com os processos lançados contra pessoas que, quando julgadas, se provou nada terem feito de mal.

Estou farto de ver incompetentes a exercer cargos para os quais não têm qualquer qualificação.

Estou cansado e farto de ver nas televisões o rigor substituído pelo espetáculo.

Estou farto de ver muita gente mais interessada em estar do lado do problema do que do lado das soluções.

E também estou cansado de ver que em certos casos são eles mesmos o problema.

Como também estou cansado dos que gostam mais de destruir do que construir.

Estou cansado de ver tanta inveja e tanta vontade de deitar abaixo os que fazem qualquer coisa que se veja.

Confesso igualmente que estou cansado das notícias sensacionais que duram menos de 24 horas, porque foram forjadas com objetivos inconfessáveis.

Estou cansado de não ver enaltecido o que de muito bom se faz em Portugal, seja nas empresas, nas universidades, nas escolas ou nos hospitais.

Como estou farto de ver aqueles que, como portugueses, gostam de se autoflagelar.

Estou cansado de ver televisão e até de ler jornais.

Sim, estou cansado de viver num país que adoro, mas que me traz grandes frustrações quase todos os dias.

Tanta frustração deve talvez ser da idade e da falta de paciência que tenho para aturar tantos disparates.

Nota final: estou triste, cansado e farto de muitas coisas, mas não sou um desistente.

Estarei sempre disponível para lutar contra os populismos e contra os inimigos da democracia, procurando que não nos toquem na liberdade e que, sem complexos ideológicos, se encontrem, com moderação, equilíbrio e bom senso, as soluções para os problemas que enfrentamos.

Sunday, December 4, 2022

O Erro do Retalho

Não sei há quantas décadas foi inventado o "cheque-presente".
Uma técnica de vendas que servia garantir que o beneficiário recebia um produto/serviço que corresponderia com os seus desejos.

A rede de distribuição SONAE tem lojas para todas as necessidades: alimentação; saúde; vestuário; electrónica.
Existe alguém que possa tirar melhor partido dos cheques-prenda?

Um cheque-prenda SONAE permitiria que o beneficiário comprasse aquilo que precisa. O cliente pode ter em mente que estará a oferecer uns headphones bluetooth com redução de ruído, mas a realidade pode ser bem diferente, como endereçar esse valor para um amigo que precisa de ajuda para a conta do supermercado.

Num periodo particularmente conturbado, com 4 milhões de potenciais pobres, não cabe às corporações substituirem-se ao Estado. Apenas o dever de responderem com inteligência aos novos contextos sociais.

Ganha quem antecipa.

Friday, November 18, 2022

Frederico Lucas Lda. (est. 18/11/1992)

E assim, numa penada, chego aos 30 anos de atividade empresarial.
Se fosse músico faria um álbum, sendo consultor escrevo um texto.

Tenho uma vida profissional dedicada ao Desenvolvimento de Territórios.
Inicialmente em grandes investimentos públicos, hoje na captação de investimentos privados para territórios rurais.

Quando o leitor percorrer estradas como a A23 (à época IP6), A8/A15 ou IC8, saiba que foi por aí que comecei.
No registo de imagem das técnicas e dos trabalhos executados, no contacto com as populações, imprensa e autarcas, para o meu cliente Junta Autónoma de Estradas.
Neste capitulo, a Ponte Vasco da Gama e o Aeroporto Francisco Sá Carneiro são sem dúvida os projectos que mais me marcaram, nem sempre pelas melhores razões.

Neste periodo colaborei com três pessoas que jamais esquecerei: José Manuel Pantaleão; Luísa Paredes Resina; Rui Felgueiras.
Julgo que nem todos reformados, mas naturalmente a caminho disso.
Ao fim de trinta anos de profissão, é natural que sintamos que somos os novos séniores da nossa área, muito embora os nomeados sejam todos formados em Engenharia Civil, que não é nem será a minha formação.

O que era Portugal em 1992?

Governado há 7 anos por Aníbal Cavaco Silva, Portugal era um país que se destacava pela infraestruturação, fruto do financiamento europeu para a coesão: vias rodoviárias, equipamentos municipais.

Foi também o período em que captámos o investimento da Auto-Europa, motor da renovação empresarial na península de Setúbal, após o desaparecimento da Setenave e da fábrica da Renault.
Até aí, Setúbal era a única capital de Distrito que ligava a Lisboa por Auto-estrada.
Sim, leu bem. Nem Santarém.

As figuras políticas da época eram o António Guterres, acabado de ser eleito Secretário Geral do Partido Socialista, secundado por Jaime Gama, Augusto Mateus, João Cravinho, Maria João Rodrigues, entre outros.

No lado do partido do governo, o odor era mais bafiento, próprio de 7 anos de governação com maioria absoluta.

O PIB per capita da União Europeia era de USD 17.500, que contrasta com os USD 38.300 atuais.
Portugal estava 38% abaixo da média da UE, atraso que mantém mesmo após a entrada de países mais pobres no espaço europeu.

Isso significa que o investimento concretizado em Portugal pelos fundos para a coesão tiveram um efeito nulo ou contraproducente?

Obviamente contraproducente.

"Novos Povoadores"

Uma marca que definiu uma visão e um movimento para os territórios rurais em Portugal.
Foi com esse pretexto que realizei mais de 150 ações motivacionais para o empreendedorismo em territórios rurais.

Quando o projecto foi tornado público, em 2009, era consensual dizer que o meio rural não tinha atrativos para novas familias.
Hoje, as empresas vivem embaraçadas com o desejo dos seus trabalhadores em manterem-se a viver nesses territórios e indisponíveis para o regresso ao rebuliço citadino.
Para este novo contexto, muito contribuiu a adoção desta visão pela politica pública: primeiro com a Unidade de Missão para a Valorização do Interior, hoje Secretaria de Estado.

Chego a este ponto sem saber se a letargia das economias rurais é causa ou consequência do Poder Local.
O eleitor português vota em função dos seus interesses individuais. Vota no politico que julga poder influenciar. E o eleito corresponde, para se eternizar na função.

Captação de Investimento

É o meu novo capítulo.
Vivemos a monocultura do Turismo.
É um sector que funciona, mas se aquilo que pretendemos vender é a autenticidade, convém que o IAPMEI faça mais e melhor pelos negócios que fazem sentido apoiar.

Comecei este capitulo da minha vida profissional a pensar que Contact Centers ou Centros de Programação faziam sentido, pelo dinheiro que introduzem nesses territórios.
Mas a realidade é distinta: um programador ganha menos que um funcionário mal pago na restauração.
Com dificuldade paga a casa e o supermercado.
É uma cultura de novos pobres, que deveríamos dispensar enquanto estratégia.

Em 30 anos, participei em muitos sucessos e alguns insucessos.
Assumo sem receio.
Como qualquer pessoa que ousa acreditar, nem sempre o caminho foi glorioso.
A solução é deixar de sonhar.
E hoje sonho muito menos. Em português.

Thursday, September 15, 2022

Socialismo na Gaveta II

É a segunda vez que o Partido Socialista é a própria vítima da sua politica.
A história revela que quando o PS governa, sobra para o PSD a restruturação económica.
Foi assim depois das DUAS bancarrotas no pós-revolução.
Foi assim após o incidente José Sócrates.

Para "salvar" a carreira política, António Costa fez o que nunca tinha acontecido em Portugal: tirou o partido mais votado da governação, sem eleições.
São as regras de quem espera memória curta do seu eleitorado.
Prometeu tudo o que uma sereia poderia prometer: reversão imediata de salários e pensões, mais apoios sociais e muitas, muitas promessas para o "fim da austeridade".
E, sem se rir, conseguiu dizer durante anos que tinha acabado a austeridade num dos países mais endividados do mundo.

Os eleitores sabiam e sabem que ele estava a mentir, mas à boa maneira lusitana "trocam o seu voto por um dia de ilusão".

Dizem os livros de economia que distribuir dinheiro sem a contrapartida da criação de riqueza tem uma consequência: inflação.
A mesma que conhecemos hoje.
Como estamos em guerra, a culpa é da Guerra, apesar de sabermos que se retirarmos esse factor, te-la-íamos do mesmo modo.

Em nome do populismo, desbaratámos esforço de todos os portugueses para o reequilibrio das contas públicas.
Agora, num contexto adverso, não é possível esconder o óbvio: é preciso cortar nas pensões e nos salários da função pública.

António Costa tem três bons amigos para as ocasiões: Luís Paixão Martins, Vitor Escária e Lacerda Machado.
Este é o momento certo para os chamar para criarem uma campanha de Segurança Rodoviária, Combate à Violência Doméstica, ou pela Igualdade de Género.

O que é bom sai sempre bem.

Wednesday, August 17, 2022

“ayatollah de Barcarena”

Fotografia de Nuno Ferreira Santos, Público
Sou amigo de Sérgio Figueiredo.

Recebi com estupefação a notícia da contratação de Sérgio Figueiredo para o Governo, no caso concreto para o Gabinete do Ministro das Finanças.

Sérgio Figueiredo, tal como João Cotrim Figueiredo, presidente do meu partido, são pessoas com carreira profissional dentro e fora da política.
Este Governo não teve a sorte de envolver este tipo de pessoas.
Limitou-se a nomear amigos, amigos de amigos e amigos do alheio. Por parte daquele a quem não se conhece atividade profissional: António Costa.
(Não considerei a atividade de especulação imobiliária como profissão.)

Não acreditava, nem acredito, que Sérgio Figueiredo pudesse trazer alguma dignidade a um Governo que ficará para a História como o pior desde o tempo de Salazar.
Pior em Estratégia, em Serviços Públicos, em Sustentabilidade Ambiental e Económica, em Desenvolvimento.
Em síntese: o pior.

No passado dia 9 de Agosto o Público apelidou Sérgio Figueiredo de “ayatollah de Barcarena”, acrescentando que José Sócrates consta na lista de seus amigos.
Podia ter dito, mas não disse, que o “Ayatollah de São Bento” é seu inimigo.
Não gerava o efeito pretendido.

As redes sociais incendiaram-se em ódio porque a empresa que o Sérgio dirige cobraria o equivalente ao salário de Ministro pelos seus serviços.
Tudo isto enquanto ardia a Serra da Estrela, porque o Cmdt dos Bombeiros Voluntários da Covilhã deixou que o mesmo, na fase embrionária, se escapasse para Manteigas.
Morreram animais, perdeu-se o maior pulmão de Portugal e atirou-se com o fumo para Espanha.

Portugal pode viver de fait divers. Mas não deixará de ser ultrapassado pela Roménia - sim, a Roménia! -  quando o atual Governo terminar funções.
Nessa altura o país será confrontado com a existência de portugueses nos semáforos desse país, a pedir ajuda para comer.


Saturday, April 18, 2020

Dependências



Acordei cedo e cedo percebi que não tinha café em casa.
Pânico!

Vesti-me e saí, determinado a colmatar essa falha.
Para além das necessidades básicas, o café é verdadeiramente uma dependência.

Costumava aproveitar as férias para desintoxicar de duas coisas: café e telemóvel.
Era tomado por uma dor de cabeça nos primeiros dias - igual à atual pelo confinamento - e passada uma semana, sentia-me com um mês cumprido de férias.
Aprendi que é a solução express para quando preciso de descansar.

Chegado a casa, e sem demoras, café a sair: quente e espumoso como gosto.

Regresso à rotina: e-mails e notícias.

São 14:00 e só agora olhei para o lado: aqui está o café, intocado, frio e sem espuma.